domingo, 15 de abril de 2012

MAIS UMA DO SÉRGIO EMILIANO

Sou louco por crônicas. Entre a notícia e a literatura, essa variável dos textos narrativos dão um ar de osculta e confidências. E, quando o cronista consegue captar detalhes mínimos de algo que nos passou imperceptível, aí sua capacidade ganha ares de reflexão profunda.
Sou fã incondicional dos escritos do Sérgio Emiliano e sempre que o mesmo tem alguma coisa produzida tenho a felicidade de poder compartilhar.
E gosto de compartilhar com todos os que leem diariamente o nosso blog.

CASAMENTO NO INTERIOR
Sérgio Emiliano
Fui convidado para um casamento no interior. De presente, levei um faqueiro debaixo do braço e estranhei o fato de ter ido. Não costumo ir nessas festas mas, era um casal tão feliz e humilde que não pude resistir.
A casa estava toda preparada. O quintal estava varrido; do alpendre pendiam alguns balões e um freezer velho fazia barulho gelando a cerveja.
O padre aguardava a entrada da noiva que apareceu com o rosto coberto por um véu, uma espécie de tule, que sempre voava quando ela soprava por causa do calor. Ia lá na frente e voltava, repousando na sua face maquiada. O noivo estava com o olho roxo, pois quando foi
descarregar a cerveja do caminhão, um engradado acertou-lhe em cheio. Nada que impedisse as famosas juras de amor.
Várias mesas estavam espalhadas por debaixo das árvores. De vez em quando caía um umbu maduro e eu, calado, torcia para que caísse na testa de uma comadre que falava sem parar.
Era muita comida. Tachos enormes de porco cozido, galinha, carneiro e salada de batata inglesa com abacaxi. Uma senhora com um pano de prato ficava espantando as moscas e gritava para um tal de “Zé” tirar a leitoa que assava no forno de lenha.
Todos estavam felizes e mais convidados chegavam de motos, cavalos e caminhão. A cerveja espumava, mas logo foi ficando cada vez mais gelada. Uma banda tocava forró, depois forró e depois mais forró.
A melhor mesa foi dada ao padre, aos padrinhos e ao fazendeiro rico vizinho.
O chão havia sido bem molhado e uma poeira ainda surgia dos pés que dançavam numa energia sem fim. De vez em quando eu levava um susto, pois os gatos passavam por debaixo da mesa e esfregavam o rabo nas nossas pernas. Os foguetes explodiam e os cachorros sumiam. O pobre de um papagaio estava em estado de choque.
Não vi frescuras, fofocas e brigas. Todos estavam felizes. O casal realmente se amava, e a mãe da noiva era de uma simplicidade que me comovia. Tão cansada e tão satisfeita.
Fui embora quando o sol já se escondia e o último som que ouvi foi dos capotes espalhados por toda parte. “sô fraco, sô fraco, sô fraco, sô fraco, sô fraco, sô fraco...”.

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