Ensinamento marcante pode ser extraído da mitologia
grega, mais precisamente do lendário Procusto, bandido que, vivendo, oculto, na
serra de Elêusis, à margem da estrada que ligava Mégara a Atenas, tinha em sua
casa uma cama de ferro para a qual convidava os viajantes a se deitarem. Os
hóspedes de altura superior ao comprimento da cama tinham, enquanto dormiam, as
pernas amputadas a machadadas. Os de altura inferior eram esticados, com cordas
e roldanas, até que se igualassem ao comprimento da cama. O reinado de horror do tirânico Procusto
chegou ao fim quando o herói ateniense Teseu o capturou e fê-lo deitar em sua
própria cama onde teve a cabeça e pés decepados. Teseu aplicou a Procusto o mesmo suplício que
infligia aos seus hóspedes, incautos. A lógica doentia de Procusto era a
padronização, isto é, todos deveriam caber na sua medida, na sua régua. Os que
estivessem fora da medida única seriam enquadrados, subjugados. Embora Teseu
tenha aniquilado o monstro da mitologia grega, seu espírito intolerante até
hoje faz estragos pelo mundo afora, inclusive no Brasil. Aliás, a medida única
de Procusto, representada por sua cama de ferro, metaforiza cabalmente o
sentido da intolerância de uns em relação a outros. Mesmo sem a crueldade dos
métodos de Procusto, frequentemente queremos enquadrar as pessoas na nossa
régua de comportamento, nos padrões que julgamos ideias, ajustando-as aos
conceitos de como deveriam ser. Vezes sem conta o espírito de Procusto se
interpõe à história da humanidade. Exemplos de singular relevo são o holocausto
e escravidão negra, onde os que se julgavam seres superiores acharam-se no
direito de subjugar os que eram “diferentes”. Na inquisição usou-se até o nome
de Deus para enquadrar os “diferentes”.
As cenas comuns de homofobia e
ataques a homossexuais não são outra coisa senão reminiscências despertadas da
cama de ferro de Procusto. “Mas,
não é a diversidade uma característica de homens e mulheres? Então, por
que insistir em obrigar homens e mulheres a viverem segundo os mesmos padrões e
ideais, forçando-os a ajustar suas vidas aos conceitos pré-estabelecidos?”
Acautelemo-nos: o
espírito, à solta, do crudelíssimo bandido mitológico ainda não encontrou a
quietude do melhor sono; ressurge impondo a sua régua mutiladora, ora fisicamente, ora
psicologicamente. Visível ou invisivelmente,
a cama de Procusto pervaga por diversos ambientes inclusive nas escolas. “Alunos
“diferentes” têm sido mutilados em suas características em nome do padrão
social”. Muitos são os que tentam adequar os outros aos
seus imperativos, forçando-os a entrarem nas suas medidas.
Que não sejamos acometidos da odiosidade que faz
apertar o gatilho contra os que são
“diferentes” ou pensam de modo diverso. A diferença entre pessoas é da
essência do mosaico de povos. Que Deus abençoe a todos, sobremaneira os que,
por serem “diferentes” são molestados pelos procustianos, simpatizantes da cama
de ferro da intolerância, dentre os quais conhecidos apóstolos da intransigência:
figuras da política, célebres redatores, etc.
* Jacob Fortes
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