terça-feira, 13 de novembro de 2018

Lideranças femininas debatem papel da mulher em tempos de ameaça aos direitos humanos


Enfrentar o medo, ser resistência, participar das decisões políticas, ocupar espaços, fazer parte do cenário político e das decisões de Estado. É isso que querem as mulheres.  É esse o caminho que defendem as lideranças femininas que participaram, na Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH), de audiência pública para debater a situação das mulheres na atual conjuntura.
“O Brasil vive um momento trágico. Um momento de morte lenta da democracia. Num momento como esses, quem morre primeiro são os direitos humanos”. A reflexão da ex-ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres, Eleonora Menicucci, é o resumo do debate.
Menicucci destacou que vivemos um momento em que o medo de se manifestar e de se mobilizar cresce entra a população. Para a presidenta da CDH, senadora Regina Sousa (PT-PI), o medo precisa ser enfrentado. “A gente não pode se encolher, ou estaremos contribuindo, de alguma forma, com essa loucura que se instalou”, resumiu.
O medo, segundo as participantes do debate, paralisa. Impede o avanço.  Avanço como o que ocorreu no Piauí, onde, antes mesmo da aprovação da Lei do Feminicídio, já estava em funcionamento a primeira Delegacia do Brasil voltada a atender e elucidar assassinatos de meninas, mulheres, travestis e transexuais. A subsecretária de segurança pública do estado Eugênia Nogueira do Rego Monteiro Villa falou da importância de dar respostas à violência contra as mulheres.
Eugênia também falou da Central de Flagrantes Metropolitana de Gênero, que atende 24 horas por dia em Teresina, onde o crime mais comum é a ameaça e onde o olho sobre a realidade local é o que define a forma de atuação.
Maria José da Silva, secretária da Mulher e dos Direitos Humanos de Alagoas disse que quem luta por direitos humanos precisa resistir às ameaças que se delineiam. Segundo ela, para isso é necessário que se conheça o Texto Constitucional. “Temos a obrigação de cuidar dos povos tradicionais”, disse ela, referindo-se a indígenas e quilombolas.
Guerreiras
Representante dos povos ciganos, Elisa Costa, da Associação Internacional Maylê Sara Kalí também falou de resistência.
Primeira mulher indígena do País a ser eleita para um cargo de deputada no País, a advogada Joênia Batista de Carvalho, ou Joênia Wapichana (Rede/RR), como prefere ser chamada, sempre esteve identificada com as causas dos povos indígenas. “Eu, que já fui impedida de entrar no Congresso, tenho a missão de levar a voz das mulheres indígenas para a Câmara”, disse.
Ainda falando em medo, a deputada eleita disse que é preciso trazer mais mulheres para os espaços políticos. “A gente precisa criar mais mulheres guerreiras. Nós temos esse papel”, resumiu.
No encerramento, Eleonora Menicucci, a mesma que falou em momento trágico no início do encontro, falou de esperança. “Esperança do verbo esperançar, não do esperar”, brincou.  Para a ex-ministra, cabe às mulheres que lutam ou já lutaram, seguir na mesma missão. Ou, como ela disse, “ não podemos olhar a banda passar; precisamos fazer parte da banda, tocar a banda, porque não existe democracia sem direitos humanos; porque sem direitos humanos, o que há é estado de exceção”.
Foto: Felipe Nagô

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