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quinta-feira, 24 de abril de 2025

CARTA ABERTA

O Silêncio Cúmplice: Até Quando Nossas Lideranças Vão Trocar a Luta pelo Palácio?
Rondinele Santos

    Para as lideranças que hoje desfrutam do calor dos gabinetes e do eco dos seus próprios discursos oficiais: até quando o medo de perder a poltrona vai amordaçar a voz que ecoava nas ruas? Até quando a promessa de migalhas institucionais vai calar o grito ancestral que denuncia o genocídio da nossa gente?
    Olhem para as estatísticas cruéis, para os corpos tombados, para as mães que choram os filhos arrancados pela violência do Estado. Sintam o peso da exclusão, a ferida aberta da desigualdade racial que sangra diariamente nas nossas comunidades. E perguntem-se: o silêncio de vocês está a nutrir essa ferida ou a ajudar a cicatrizá-la?
    Lembrem-se de onde vieram. Das lutas que vos trouxeram até aqui. Do sangue e das lágrimas que pavimentaram o caminho. A voz que vos elevou não era a voz mansa da conveniência, mas o rugido indignado da resistência. O que aconteceu a esse rugido? Foi abafado pelos tapetes macios do poder? Trocou-se a trincheira pela mesa de reuniões, e a urgência da transformação foi diluída na burocracia estatal?
    Não se iludam com os aplausos protocolares e os sorrisos forçados. A verdadeira legitimidade não reside nos cargos, mas na representatividade genuína, na defesa intransigente dos interesses do nosso povo. No dia em que o medo de perder o emprego superar a coragem de denunciar a injustiça, nesse dia, terão perdido mais do que um cargo: terão perdido a confiança daqueles que depositaram em vocês a esperança de um futuro mais justo.
    A história não perdoa o silêncio dos cúmplices. Ela cobra, implacável, daqueles que, tendo a oportunidade de lutar, preferiram a segurança da omissão. Que legado querem deixar? O de líderes que se acobardaram diante do sistema ou o de guerreiros que, mesmo dentro da fortaleza inimiga, nunca deixaram de lutar pelo seu povo?
    Ainda há tempo de reacender a chama da indignação. De usar o poder institucional como ferramenta de transformação radical, e não como mordaça da própria consciência. De lembrar que a luta não termina com a chegada ao poder, mas apenas se intensifica.
    O povo negro clama por líderes que não tremam diante da verdade, que não troquem a justiça por um contracheque. Que a voz que ecoava nas ruas volte a ressoar nos corredores do poder — forte e inabalável. A escolha é vossa: a história lembrar-vos-á como libertadores ou como meros figurantes de um sistema que continua a oprimir-nos. Reflitam. O tempo urge.

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