A corrupção vem de longe, chegou debaixo dos panos
como passageira clandestina das caravelas.
Por mais que existissem controles enérgicos,
monitorados por exatores régios de grande valimento, (governadores, ouvidores e
provedores) imbuídos de poderes
majestáticos, de prerrogativas supremas
para vigiar as riquezas da Fazenda Real, cobrar o quinto, julgar e decidir, o
fisco régio era driblado; insondáveis modos corruptivos vigiam: imagens
devocionais recheadas de ouro.
Enquanto escoava o rito com que El-rei
drenava as riquezas da colônia, oprimida, infetada de corruptos, os rebentos tupiniquins iam surgindo aos
milhares, e, nestes, o ardor da liberdade. Suas aspirações libertárias fustigavam-lhes
o sangue! Enquanto a emancipação amadurecia, aqui e acolá levantes separatistas
glorificavam heróis da independência; pena de morte ou degredo. Finalmente, sem
bacamarte, sem baioneta, sem clavinote, sem derramamento, a independência, — por
meio apenas de um grito sonoro vindo de especialíssimas circunstâncias
históricas —, se fez realidade. Vexados por séculos de exploração os
tupiniquins cantaram, se
refestelaram. Porém, remanesceram
as bactérias virulentas da corrupção, principalmente na política e na gestão da
coisa pública. O que era tomado dos brasileiros à força, pelos mecanismos
reinóis, passou a ser tomado à surdina, à matreirice, pelos corruptos e
corruptores. Desgraçadamente o povo continua sendo defraudado por uma corrupção
sombria e trágica, quase hegemônica. Nisto deriva o sobrepeso escanchado no
cangote dos que, com seu trabalho, forjam a identidade brasileira; embora por
vezes rotulados de tolos porque se pautam
pela correção.
Enquanto a
corrupção, viciosa, endêmica, se devota ao santo sacrifício de drenar os
recursos públicos, a
pátria, — cambaleante, emperrada, de semblante demudado, — desapressa os passos
da prosperidade.
Tomara que as mãos
equânimes do Supremo Tribunal Federal, ao rigorismo da lei, possam desvendar e
punir os corruptos que, por meio de tramoias, vivem parasitariamente à custa do
suor dos tributários brasileiros. O país — saqueado, esvaído, — já não tem sangue
suficiente para saciar a gula de esponja de tantos fraudadores hematófagos. Ainda
que os embusteiros — no papel de diversivos e entregues ao hábito de pretextar
para não assumir responsabilidades —, aleguem que a culpa é de Getúlio Vargas por ter
criado a Petrobrás, a crença é de que o primado da justiça se imporá. Com ou
sem lava jato, urge água e sabão, abundantemente, para remover essa nódoa
que persiste.
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