Com tonturas, perda de
apetite e quadro de depressão, Maria* foi levada pela filha ao
pronto-socorro da cidade de Varginha (MG). Horas depois, viria o
diagnóstico que mudaria sua relação com os filhos e família. Ela, então
com 50 anos, estava com Aids. “Foi o fruto do meu segundo casamento de
dez anos”, diz. Hoje, aos 63 e com sequelas motoras pelo diagnóstico
tardio, Maria ainda enfrenta a negação de dois filhos. A presença do HIV
na terceira idade cresceu mais de 80% nos últimos 12 anos, segundo o
Ministério de Saúde. Com tímidas ações de combate à doença nessa
população, o Brasil corre risco de ter cada vez mais idosos doentes.
Para
o infectologista Jean Gorinchteyn, médico do Ambulatório de Aids do
Idoso do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e autor do livro “Sexo e
Aids depois dos 50”, ignorar a sexualidade dos idosos chegou a
atrapalhar a sociedade médica em diagnósticos. "Não é só um preconceito
da população. Quando os casos começaram a aparecer, em 1996, a
sexualidade dessa população não era nem considerada". Doenças do próprio
envelhecimento acabavam escondendo o HIV. A avaliação de pneumonias
entre idosos e jovens pode ser usada como um exemplo, explica o
profissional. Nos mais experientes, a doença seria justificada pela
saúde frágil e mudança climática. Já nos mais novos, o quadro causa
estranheza e é investigado.
Maria
não está sozinha. Para ela e outras nove pacientes da Casa Guadalupe,
especializada em atendimento a idosas soropositivas, em São Paulo, o uso
do preservativo em relações sexuais sempre foi considerado dispensável e
nada atraente. Na presença da reportagem elas conversam sobre o
assunto. “Você chupa bala com papel, jovem?”, questiona Joana*, de 49. E
Maria completa: “Aquilo é nojento demais”. Apesar da Aids ser
prontamente relacionada a profissionais do sexo e homossexuais, apenas
duas da casa eram prostitutas, mas todas desconheciam a principal função
do preservativo.
“A
doença não é mais exclusiva aos profissionais do sexo, homossexuais e
viciados. Aqui tratamos donas de casa que por falta de informação
acabaram se contaminando”, explica a enfermeira-chefe Thalita Silveira,
de 25 anos. Ela explica que todas as pacientes enfrentam período de
descrença já que não é uma doença da geração delas. “Acreditam que são
imunes”, diz. A paciente mais velha da casa é Sônia*, de 77 anos, que
contraiu a doença em 1999. Com os cabelos cuidadosamente penteados e
exibindo as unhas pintadas, a idosa culpa seu vizinho, “um homem casado e
com filhos”, pela doença.
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