Um ponto que sempre vem à pauta quando se debate a educação superior é o elevado número de desistências verificadas em muitos cursos. A evasão nos cursos de engenharia, por exemplo, chega a ultrapassar os 40 %.
Quais as causas para uma "fuga" em tão grande escala?
Em primeiro lugar, o maior dos problemas que enfrentamos está na má formação dos nossos alunos do ensino médio, ainda submetidos a estruturas curriculares desatualizadas.
Quem convive com os alunos das universidades nos primeiros períodos, acaba também por perceber que grande parte destes jovens está perplexa com os novos ambientes de aprendizagem e com a responsabilidade que passaram a assumir após o ingresso na universidade. Em primeiro lugar, porque não se habituaram ao auto-estudo, à frequentar bibliotecas, e, apesar de usuários frequentes da Internet, não se sentem confortáveis com o uso das plataformas de educação a distância, ou das demais tecnologias de informação e comunicação disponíveis nas modernas universidades.
Recentemente uma instituição de ensino resolveu indagar das empresas quais as falhas que poderiam estar ocorrendo no processo ensino-aprendizagem. Para surpresa geral, a maior parte das reclamações não se concentrou nos conteúdos ministrados, mas na forma como eram transmitidos: compartimentada e sem ligação com a vida real. Eis aí um paradigma da nova educação que só agora chega ao nosso país: a interdisciplinaridade.
Outro aspecto que exige um cuidado muito grande é o do trabalho em equipe, porque no século XXI será cada vez mais difícil trabalhar individualmente.
Os jovens também sentem certo temor com a atividade científica nas universidades, e que é a sua razão de ser. Como dizia o saudoso Professor Carlos Chagas Filho, "na Universidade se ensina porque se pesquisa".
Minha avó costumava lamentar a "perda da qualidade" do leite que, no seu tempo de criança chegava morno, tirado de uma vaca que corria as ruas do seu bairro. Depois, começou a ser entregue em garrafas de vidro, ou, pior ainda, nos seus últimos anos de vida, comprado em sacos plásticos no supermercado. Ela tinha seus motivos para sentir saudades do “leite orgânico” do final do século XIX, embora não percebesse que o leite no saquinho era utilizado por milhões de pessoas.
O nosso grande problema é que tivemos que universalizar a educação, tirar as crianças do analfabetismo, formar milhões de jovens no ensino médio e oferecer-lhes a educação profissional, ou ainda criar condições para que ingressassem na universidade. Tudo isto em poucas décadas, bem menos que as decorridas entre a vaca na porta de casa e o leite em caixinha de papelão, de longa vida (que a minha avó não pegou).
Este é o desafio da educação brasileira: capacitar multidões, com os saberes, habilidades e competências necessárias ao enfrentamento de novos desafios.
Todos entendem que hoje estamos formando jovens para trabalhar com tecnologias que ainda não foram criadas, em profissões que ainda não existem. Portanto, é claro que os paradigmas da educação estão se modificando. Para tanto, não poderemos fugir do compromisso de formar bons professores, capazes de atuar como instrumentos de transferência de conhecimentos de uma geração para outra.
Por isso, fico muito assustado quando vejo centenas de escolas em greve, com jovens perdendo aquela que poderá ser a única oportunidade de suas vidas para ingressarem numa universidade.
Entre os novos paradigmas não está a greve de docentes, mas também não está a perda de sua dignidade, com salários aviltantes. É urgente que governos e professores encontrem um caminho para o diálogo.
Fonte: http://noblat.oglobo.globo.com