DOMINGO, um bom dia para reflexões. Textos e mais textos carregaram meu celular. Contra ou a favor?
De que mesmo? Do midiotismo ou da falta de conhecimento de conceitos elementares como cidadania, ética, educação, respeito... Coisas que nos tem faltado nos últimos tempos.
Estamos nos deixando levar pelos argumentos alheios que sobrepõem-se aos nossos desejos - ou então eu não os possuo sob nenhuma circunstância.
Lembrei-me de uma das últimas aulas de 2015 do "terceirão" do 13 de Março: cidadania.
Carregado de preocupação em provocar a reflexão crítica de nossas ações, trouxe naquela aula texto de Gilberto Dimenstein, que transcrevo a seguir e convido você a ler e pensar.
O que é cidadania
Gilberto Dimenstein
Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressá-la. É poder votar em quem quiser sem constrangimento. É
processar um médico que cometa um erro. É devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de
ser negro sem ser discriminado, de praticar uma religião sem ser perseguido.
Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios de cidadania: respeitar-se o sinal vermelho no
trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comportamento, está o respeito à coisa
pública.
O direito de ter direitos é uma conquista da humanidade. Da mesma forma que a anestesia, as vacinas, o
computador, a máquina de lavar, a pasta de dente, o transplante do coração.
Foi uma conquista dura. Muita gente lutou e morreu para que tivéssemos o direito de votar. E outros batalharam
para você votar aos dezesseis anos. Lutou-se pela ideia de que todos os homens merecem a liberdade e de que todos são
iguais diante da lei.
Pessoas deram a vida combatendo a concepção de que o rei tudo podia porque tinha poderes divinos e aos outros
cabia obedecer. No século XVIII, a rebeldia a essa situação detonou a Revolução Francesa, um marco na história da
liberdade do homem.
No mesmo século surgiu um país fundado na ideia da liberdade individual: os Estados Unidos. Foi com esse
projeto revolucionário que eles se tornaram independentes da Inglaterra.
Desde então, os direitos foram se alargando, se aprimorando, e a escravidão foi abolida. Alguém consegue hoje
imaginar um país defendendo a importância dos escravos para a economia?
Mas esse argumento foi usado durante muito tempo no Brasil.
Os donos da terra alegavam que, sem escravos, o país sofreria uma catástrofe. Eles se achavam no direito de bater
e até matar os escravos que fugissem. Nessa época, o voto era um privilégio: só podia votar quem tivesse dinheiro. E para
se candidatar a deputado, só com muita riqueza em terras.
No mundo, trabalhadores ganharam direitos. Imagine que no século passado, na Europa, crianças chegavam a
trabalhar até quinze horas por dia. E não tinham férias.
As mulheres, relegadas a segundo plano, passaram a poder votar, símbolo máximo da cidadania. Até há pouco
tempo, justificava-se abertamente o direito do marido de bater na mulher e até de matá-la.
Em 1948, surgiu a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Organização das Nações Unidas
(ONU), ainda na emoção da vitória contra as forças totalitárias lideradas pelo nazismo, na Europa.
Com essa declaração, solidificou-se a visão de que, além da liberdade de votar, de não ser perseguido por suas
convicções, o homem tinha direito a uma vida digna. É o direito ao bem estar.
A onda dos direitos mudou a cara e o mapa do mundo neste final de milênio. Assistimos à derrocada dos regimes
comunistas, com a extinção da União Soviética. Os países do Leste europeu converteram-se à democracia.
Na África do Sul, desfez-se o regime de segregação racial. A América Latina, tão viciada em ditadores, viu surgir
na década de 80 uma geração de presidentes eleitos democraticamente.
E aí, você conseguiu se incluir?
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