No dia 7 deste mês Karina deixou essa vida. Enforcou-se no quintal de casa e foi encontrada horas depois pela mãe. A dor que sentia, as agonias de uma adolescente marcada pelo bullying e pelo discurso de ódio de colegas da escola só foram descobertas pela família depois, quando em meio ao sofrimento se depararam com o desrespeito à imagem da jovem. Neste sábado, 10 dias depois da morte, uma passeata na cidade onde ela vivia, Nova Andradina, vai alertar sobre os riscos que o bullyng representa.
Karina tinha 15 anos quando se foi, mas para a família, que agora tenta entender tudo que aconteceu, o sofrimento da menina começou um ano antes, quando conheceu um rapaz, na época com 17 anos. Do relacionamento, a adolescente viu a intimidade exposta, contada de boca em boca pelas pessoas com quem convivia diariamente. Viveu o fantasma do vazamento de fotos, em temos de propagação instantânea pelas redes sociais.
A menina estudava na Escola Nair Palácio de Souza, em Nova Andradina - a 300 quilômetros de Campo Grande, e de tarde fazia curso técnico em administração. Vivia entre a casa do pai e da mãe, que são separados.
“Há uns dois meses atrás ela me perguntou se achava que ela era vagabunda. Me contou que não era mais virgem, falei que isso era normal e aí soube que esse rapaz tinha espalhado o fato. Mas não sabia de foto, isso só descobrimos depois, quando ela morreu”, contou o pai de Karina, o bacharel em direito Aparecido de Souza Oliveira, de 47 anos.
Os sinais da jovem de que algo não estava bem eram mínimos segundo o pai, e só começaram a de fato aparecer nos últimos dias. “Há 20 dias mais ou menos fui chamado na escola, me falaram que ela havia tomado remédio na casa de uma amiga, eu não sabia que remédio era esse. Ela me contou que não queria mais morar aqui, que queria sair da escola”, lembra Aparecido.
Foi só depois da morte de Karina que os pais descobriram a proporção do que a menina sofria. Mesmo depois de algo tão trágico quanto o suicídio, mensagens de ódio passaram a circular nas redes sociais, colegas de escola afirmando que a morte não mudariam o fato de não gostarem da menina, a chamando de “cão”. Críticas sobre o cabelo crespo, que ela costumava alisar, sobre o jeito da adolescente chegaram ao conhecimento dos pais.
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