segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Chip na roupa avisa pais sobre entrada dos filhos na escola

Além do brasão da cidade estampado, os alunos da rede municipal de Vitória da Conquista, na Bahia, carregam no lado esquerdo do peito um símbolo da inovação possível no sistema de ensino brasileiro. Preso ao tecido verde-bandeira das camisetas dos estudantes, um chip de identificação por radiofrequência (RFID) envia uma mensagem de texto ao celular dos pais do aluno quando ele entra e outra quando ele sai da escola, sem custo para os responsáveis.

Já usado para o mesmo fim em outros países, o sistema pode substituir a tradicional lista de chamada na sala de aula e mais: contribui para o controle da frequência escolar. Nos primeiros 30 dias de uso, iniciado em março deste ano na cidade baiana, houve um aumento de 95% para 98% na frequência das crianças e adolescentes em uma das instituições participantes, segundo o gerente de tecnologia da informação da Secretaria de Educação do município, Ronaldo Costa Jr.

Atualmente, o projeto contempla 25 escolas que somam 20 mil alunos entre 6 e 14 anos, que corresponde a cerca de 50% dos alunos da rede municipal dessa faixa etária. O objetivo da iniciativa é diminuir o número de faltas, que geram perda de conteúdo, atraso no aprendizado e, mais tarde, evasão escolar. Na região, está em jogo ainda uma situação social. Segundo a Secretaria de Educação do município, um grande causador das faltas nessa idade é o aliciamento dos menores para o tráfico de drogas, que acontece massivamente perto dos colégios. O chip tornou mais difícil faltar à aula sem ser notado, e, consequentemente, afastou os estudantes do tráfico. "Funciona porque a cabeça do aluno muda. Ele sabe que, quando está com o uniforme, está sendo acompanhado. Ajudou bastante. Os pais querem ampliar, levar para atividades extraclasse, mas isso será uma outra etapa", conta Costa Jr.

A novidade foi custeada parte com recursos do Ministério da Educação (MEC), através do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), e parte com dinheiro da própria prefeitura de Vitória da Conquista. O custo de R$ 1,108 milhão foi destinado à compra de equipamentos, desenvolvimento e instalação de todo o sistema e o fornecimento de dois uniformes inteligentes para cada um dos 20 mil alunos contemplados. "No segundo ano, esse custo irá cair, pois só precisamos fabricar mais uniformes, mas o sistema já está instalado e funcionando", explica o gerente. Todas as roupas podem ser lavadas normalmente e, segundo a prefeitura, têm resistido bem às travessuras típicas da infância.

Independente da facilidade de se burlar o sistema, o clima gerado é de vigilância constante. A psicóloga e professora no curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Sheila de Souza, acredita que, apesar disso, essas iniciativas são totalmente benéficas porque entregam também o controle da assiduidade do aluno aos pais. "Contudo, a presença da criança na escola não garante a aprendizagem, apenas que ela vai estar mais antenada para datas de avaliação, provas e conteúdos. Só a motivação vai garantir isso", pondera. Na percepção dela, a questão de constante vigilância e perda da possibilidade de preservação da identidade já está espalhada em outros ambientes sociais e, por isso, esse não seria um problema novo para as crianças. "Não acredito que isso se reflita em uma possível revolta, pelos pais ficarem sabendo se ela está ou não na escola. A criança, teoricamente, não tem autonomia se quer ou não ir à aula. Esse controle só está contando isso para os pais, que são os responsáveis", afirma.

Nenhum comentário: