domingo, 14 de outubro de 2012

Artigo: Educação, futebol e política

Por Aluízio Barros

As pessoas costumam confundir educação com escola. Daí vem o apoio a propostas equivocadas de alguns políticos em busca de votos. Uma delas é aquela que quer tornar obrigatório o ensino de Moral e Civismo nas escolas. Escola e universidade são espaços para o saber especializado que não se aprende na comunidade. Educação é o meio para o desenvolvimento das potencialidades do ser humano. Pode acontecer na rua, na igreja, em casa, na quadra de esportes e em outros espaços de convivência.

Na Sociologia da Educação, Émile Durkheim explica que “sob o regime tribal, a característica essencial da educação reside no fato de ser difusa e administrada indistintamente por todos os elementos do clã. Não há mestres determinados, nem inspetores especiais para a formação da juventude: esses papéis são desempenhados por todos os anciãos e pelo conjunto das gerações anteriores”.

No Brasil, a prática do futebol tem dado sua contribuição negativa no sentido de deseducar nossas crianças e adolescentes. O comentarista esportivo Tostão tem denunciado com veemência a excessiva tolerância da mídia “com a mediocridade e a violência nos gramados”. Recentemente ele escreveu na sua coluna o seguinte texto:

“A maioria das partidas do Brasileirão é truncada, como a entre Atlético e Grêmio, dois candidatos ao título, porque os árbitros marcam muitas faltas e também porque os jogadores se preocupam mais em dar trombadas, reclamar, discutir e simular do que jogar futebol.

É a união de hábitos ruins com a má educação dos jogadores e a conivência dos técnicos, que não têm nenhum compromisso com a qualidade do espetáculo. Soma-se a tudo isso a excessiva tolerância de parte da imprensa com a mediocridade e a violência nos gramados”.

No campo da política, podemos observar a mesma tolerância do brasileiro com a corrupção. É lamentável que o comportamento de um presidente da República popular não tenha contribuído em nada para a educação moral e cívica do nosso povo. Aqui o chefe da nação tem como valor supremo o uso da esperteza para subir na vida.

Em entrevista ao jornal O Globo, um professor da Universidade de Columbia, Michael Schudson, ressaltou que “não há educador mais importante do que o chefe de Estado. Aqui nos EUA, o presidente, por seu exemplo e pelos preceitos que propõe, pela forma como mostra preocupação com o bem público, como negocia com os oponentes, todos nós aprendemos muito com isso. Não é muito educativo passar a mensagem de que vale tudo”.

No vale tudo da política e do futebol brasileiro, as caneladas e as simulações ridículas das nossas celebridades estão a refletir nossa complacência com a falta de respeito pelas pessoas e pelas regras do jogo.
* são-joanense e professor universitário

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