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quinta-feira, 18 de julho de 2019

Campo-maiorense Gil Terceiro lançará livro com Histórias das Almas Milagrosas do Piauí

Advogado lança livro com histórias das Almas Milagrosas do Piauí.


Mais uma boa garimpagem de informações que engrandecem a nossa cidade. Desta feita será o lançamento do livro do campo-maiorense Gil Terceiro (a quem praticamente vi nascer), filho do meu dileto amigo o Promotor Gil Júnior. 

O lançamento da obra na "Terra dos Heróis do Jenipapo" acontecerá no próximo mês de outubro.


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domingo, 26 de novembro de 2017

O SOLDADO “CANINANA” E A CUMBUCA DE OVOS. (por Jacob Fortes. 23.11.2017).


Numa localidade erma, encravada no vazio do semiárido brasileiro, existia uma vila conhecida originalmente por Água de Dentro. Seus habitantes, ornados por uma miséria tão coletiva quanto próspera, eram pessoas simples; viviam da terra e dela tiravam o seu sustento. Décadas depois Água de Dentro elevou-se à categoria de cidade, desta feita sob a denominação de Riacho da Aurora.  Aliás, (permita-me o breve registro), foi na capela do Riacho da Aurora que se verificou, segundo o folclorista “Leota”, a mais excêntrica manifestação de regozijo por parte de um caboclo. Ao ouvir o oficiante proclamar: “eu vos declaro marido e mulher”, o recém-casado querendo reiterar à esposa o irresistível enlevo de tê-la desposado, expressou assim seu contentamento: Zefinha, ou bom ou mau, a desgraça tá feita!
Agora que bordei esta página com essa inusitada declaração de amor, possivelmente a mais feia e mais desagradável, retomo o curso da história da cumbuca de ovos.

Pois bem, numa casinha rústica da região interiorana do Riacho da Aurora residia uma viúva, Dona Etelvina, e seu único filho, o Quincas, apelidado de Quinzin. Semanalmente, acompanhada de Quinzin, Dona Etelvina, depois de enfatiotar-se de trajes domingueiros, endereçava-se à feira do Riacho da Aurora para aprovisionar-se de mantimentos próprios da despensa cabocla. Para custear essas aquisições levava uma cumbuca contendo muitos ovos de cocar, geralmente uma gros

LEIA O TEXTO COMPLETO AQUI

domingo, 28 de maio de 2017

POVO QUE NÃO SONHA SE LIQUIDA

Jacob Fortes
Não é apenas o provimento de bucho que sustenta um povo, mas também os sonhos. Tire os sonhos de um povo e o verá apagado, sem ânimo, abatido, fechado em si, emurchecido.
Não é de data moderna o sentimento de pesar dos brasileiros por se acharem impedidos de sonhar. O pesar surge sob a forma de doença. Essa doença, síndrome do confisco de sonhos, fora engendrada pelos corruptos. Os sonhos, pelo seu papel singular, são, por assim dizer, o estímulo, os estribos invisíveis do povo. Por mais que não se possa tocar nos sonhos eles são a entidade em que todos confiam para segredar propósitos, aspirações. São os sonhos que minimizam a crua realidade dos percalços; fazem o povo crer ser possível obrar feitos. Sem eles, no entanto, o povo chega a descrer de si mesmo. No dizer do poeta, “os sonhos são igualmente os brotos: vão rebentando e se abrindo em floradas”. Assim como a água da rega alegra as verduras, o povo carece dos borrifos de sonhos para não perder o viço, não emurchecer.
Há decênios os corruptos não fazem outra coisa senão privar os brasileiros dos seus sonhos. Essa prática abominável de confisco enseja alguns mínimos questionamentos: por que será que esses honoráveis patifes, de paletó e gravata, preferem que suas memórias à posteridade contenham o timbre da canalhice, das malfeitorias? Será que no íntimo das consciências dessa chusma de salteadores não há um pugilo de remorso pelas impiedades que cometem contra os brasileiros e o Brasil? Que escarmento merecem esses solenizados calhordas por se haverem na continuada prática de despojar esses bens tão preciosos, os sonhos? Será que as súplicas dos brasileiros contra a ação nociva dessa irmandade biltre têm sido insuficiente, de pouco fervor? Que oração, em nível de recurso, se pode evocar para fazê-los emendar-se; demovê-los do nefando vício de expropriar os sonhos do povo? Compulsando o catálogo dos rogos sugiro que comecemos pelo miserere, (salmo 51, da Bíblia), indicado para fazer aflorar a piedade alheia. Não surtindo o efeito desejado, e levando em conta não existir no Brasil o suplício capital, (e o fato de que as penas de reclusão lhes parecem água benta e os presídios escritórios para recalcitrar no crime) sobrerresta propor a criação de medida de espessura; aditar as leis penais, (hoje, brandas, românticas), de modo a que surjam normas de dentes afiados, mais imperativas, austeras, que cominem penas de maior acrimoniosidade.
Tivesse o Brasil severidade contra saqueadores, lesas-pátrias, não estaria claudicando nessa aridez, mas em radiante prosperidade, com seu terreiro limpo, desinfetado e, é claro, um gabinete dentário em cada esquina, além de metrôs de fazer a inveja sofrer.
Até quando essa malta lançará ao rosto do Brasil e de sua gente essa afronta? Até quando o povo gemerá debaixo de pedágio, escorchante, que sustenta o apetite de esponja dos ladravazes do Brasil? É perpétua a validade do alvará que permite a essa confraria de morcegos — uns anafados, outros de papadas pletóricas — vexar sadicamente o povo tal qual o gato faz o rato padecer?
Sentir-me-ei regiamente gratificado se tudo que deixei dito neste texto chegar às famílias dos corruptos, nomeadamente às suas mães; que não os tiveram para o crime.

Os sonhos nos põem para além das nossas dimensões”.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Jacob Fortes e a tragédia do Chapecoense

A TRAGÉDIA DA ROLETA-RUSSA. (Por Jacob Fortes. 05.12.2016).
Os atletas da chapecoense, Santa Catarina, foliando e cantarolando, voaram alto, em direção à Colômbia, em busca de uma taça, sul-americana. Comichava-lhes o propósito de mostrar ao estrangeiro os seus talentos, amplamente conhecidos entre as quatro linhas brasileiras; reluzir além-fronteira, arrebanhar troféu internacional. Porém, em vez de troféu, foram arrebatados por um acidente fatídico. O combustível que sustinha o avião da empresa Lamia exauriu-se minutos antes da aterrissagem. A aeronave desabou, se fez tragédia, que ainda ecoou pelo mundo, 71 mortos, além dos mutilados.

Vê-se pelos órgãos de comunicação que voar no limite da capacidade de combustível era procedimento habitual naquela aeronave. A prática, maldita, de voar com incerteza de autonomia, derivava de uma coragem, estúpida, tão insana quanto o ato de brincar de roleta-russa: (apontar o cano da arma para si ou para outrem, sem conhecer a posição exata da bala, dentro do tambor do revólver).  O Brasil, enlutado, recebe, pranteia e vela seus mortos, 71, cada qual no seu envoltório de madeira; aguarda o regresso dos que ficaram sob os cuidados sacerdotais de Medellín. E a comoção se expande, a brasilidade ainda chora!

Que não suceda ao Brasil tragédia semelhante, mas se o fadário se impuser que não lhe falte, nessas horas incertas, uma Medellín para acudir, para despachar socorros capitais. Em nome dos brasileiros e do sentimento de gratidão que lhes demarca, ergo ao povo de Medellín, Colômbia, o mais elevado preito de admiração e gratidão.


Apesar de a equipe haver-se sucumbido, a chapecoense há de restaurar-se, soerguer-se; não desertará do ideal de ser sempre uma vencedora. Porém, não custa reflexionar: voos módicos não são necessariamente os mais seguros; podem até denotar impertinência quando se trata de transportar valorosos guerreiros que, com bravura, puseram em alto-relevo as cores chapecoenses e do Brasil.

sábado, 1 de agosto de 2015

RETALHOS DESBOTADOS, DAS RUAS. (Por Jacob Fortes. 17.07.2015).


Quem, por demoradas imersões, se der ao trabalho de mergulhar nas profundezas da mendicidade e examiná-la com toda minudência, concluirá que o ofício esmoleiro é protagonizado por duas confrarias: uma é real, outra inverídica ou, a bem dizer, uma verdadeira outra falsa. Dificílimo distinguir uma da outra, pois, numa indistinção, apresentam a mesma cara, o mesmo indumento, enfim todos os traços caracterizadores da face dolorosa e pungente da miséria humana, que confeita as ruas. O propósito de ambas é o mesmo: mendigar. A verdadeira, em decorrência das fatalidades ou destino insidioso, pede por justa precisão, pela imprestabilidade laboral: invalidez, cegueira, aleijão, hemiplegia, decrepitude arrimada em cajado, enfim, os que sucumbiram. A falsa, porém, pede por comodidade, por desfastio, por malandrice, por aversão ao trabalho, por desvergonha abominável; que não choca mais a ninguém. Os personagens da falsa mendicidade, — hábeis na extorsão pelo rogo, em nome de Deus — buscam na representação, na fantasia, no simulacro, os recursos para delinear um cenário de enfermidades, dores e aniquilamento, impossível de ser recusado por qualquer pessoa: crédula, incrédula, cauta, incauta. Se do sexo feminino, de pronto se dizem viúvas, desamparadas. Costumam, envoltas em chalés pretos, pedinchar durante a noite ocasião em que puxam, eventualmente, um ou dois petizes, tão sonolentos quanto andrajosos, mais das vezes alugados da vizinha; acumpliciada. Nesse cenário de engambelar e iludir, maior serventia terão os petizes de caras borradas ou confeitadas de bexigas. Pedinchar à noite atesta maior lugubridade; passa a todos, até aos sovinas, dolorosa impressão de confrangimento. Há dentre as farsantes as que têm vocação lamurienta, as chamadas carpideiras que, por terem facilidade de verter, eventualmente são até contratadas para prantear mortos durante os funerais; haja lenço, o pranto é verdadeiro.
Pedinchando na via púbica, nas calçadas, na sacristia, no vão das portas, a malandrice, dotada de grande vocação dramática, vai-se aprovisionando à custa das pessoas de boa-fé.  Mas os pedintes embusteiros sabem que a esmola é óbolo incerto, depende da generosidade e estado psicológicos das pessoas, das circunstâncias. Daí a necessidade do emprego de recursos de grande poder de convencimento e comoção dentre os quais os patéticos “atestados”, (apócrifos evidentemente), que dizem o tamanho e a natureza da desgraça que lhes vão por casa: o acometimento de graves enfermidades; a prole faminta e numerosa; o cadáver à espera de caixão, invencionices correlativas e acessórias conforme a ocasião e o espectador. Há casos, insólitos, em que até se rojam para esmolar, é recurso extremado para fazer emergir a caridade hesitante. Mas nisto fiquem atentos os avarentos, que tanto prezam o dinheiro, pois óbolos reles podem desgostar os malandros, circunstância que, via de regra, enseja praguejamento em chuva.
Se, no bairro em que exploram a caridade pública aparece algum neófito os decanos vitalícios martirizam-no como nas escolas aos estudantes calouros. Pontos de pedinchar de alta cotação, os mais rentáveis, são, por vezes, vendidos como se fossem cadeiras de engraxate.
Se a mendicidade verdadeira é instada a pedir, e o faz incomodamente, a malandrice esmola foliando, com enorme alacridade de espírito. Ela vê na mendicância não somente um meio de vida, mas uma pândega, uma faina das menos fatigantes, sem responsabilidade.

E enquanto não se pode distinguir o inverídico do real segue, à sombra da miséria verdadeira, o cortejo das práticas enganosas. A confraria sanguessuguense vai, à folia, amealhando provisões junto à toleima incauta dos que dão esmola. Enquanto existir mosaicos de povos e de consciências há de haver condutas picarescas: não há meios capazes (ainda mais quando se tem a descura do poder público) de dissuadir essa confraria da viciosa profissão: nem oferta de um bom trabalho, nem umas cócegas no dorso com corda de sedenho, nem um longo tour por essas enxovias bolorentas, mesmo porque muitos desses hipócritas são velhos frequentadores dos calabouços.