Além do brasão da cidade estampado, os alunos da rede municipal de
Vitória da Conquista, na Bahia, carregam no lado esquerdo do peito um
símbolo da inovação possível no sistema de ensino brasileiro. Preso ao
tecido verde-bandeira das camisetas dos estudantes, um chip de
identificação por radiofrequência (RFID) envia uma mensagem de texto ao
celular dos pais do aluno quando ele entra e outra quando ele sai da
escola, sem custo para os responsáveis.
Já usado para o mesmo fim em outros países, o sistema pode substituir
a tradicional lista de chamada na sala de aula e mais: contribui para o
controle da frequência escolar. Nos primeiros 30 dias de uso, iniciado
em março deste ano na cidade baiana, houve um aumento de 95% para 98% na
frequência das crianças e adolescentes em uma das instituições
participantes, segundo o gerente de tecnologia da informação da
Secretaria de Educação do município, Ronaldo Costa Jr.
Atualmente, o projeto contempla 25 escolas que somam 20 mil alunos
entre 6 e 14 anos, que corresponde a cerca de 50% dos alunos da rede
municipal dessa faixa etária. O objetivo da iniciativa é diminuir o
número de faltas, que geram perda de conteúdo, atraso no aprendizado e,
mais tarde, evasão escolar. Na região, está em jogo ainda uma situação
social. Segundo a Secretaria de Educação do município, um grande
causador das faltas nessa idade é o aliciamento dos menores para o
tráfico de drogas, que acontece massivamente perto dos colégios. O chip
tornou mais difícil faltar à aula sem ser notado, e, consequentemente,
afastou os estudantes do tráfico. "Funciona porque a cabeça do aluno
muda. Ele sabe que, quando está com o uniforme, está sendo acompanhado.
Ajudou bastante. Os pais querem ampliar, levar para atividades
extraclasse, mas isso será uma outra etapa", conta Costa Jr.
A novidade foi custeada parte com recursos do Ministério da Educação
(MEC), através do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), e parte
com dinheiro da própria prefeitura de Vitória da Conquista. O custo de
R$ 1,108 milhão foi destinado à compra de equipamentos, desenvolvimento e
instalação de todo o sistema e o fornecimento de dois uniformes
inteligentes para cada um dos 20 mil alunos contemplados. "No segundo
ano, esse custo irá cair, pois só precisamos fabricar mais uniformes,
mas o sistema já está instalado e funcionando", explica o gerente. Todas
as roupas podem ser lavadas normalmente e, segundo a prefeitura, têm
resistido bem às travessuras típicas da infância.
Independente da facilidade de se burlar o sistema, o clima
gerado é de vigilância constante. A psicóloga e professora no curso de
Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Sheila
de Souza, acredita que, apesar disso, essas iniciativas são totalmente
benéficas porque entregam também o controle da assiduidade do aluno aos
pais. "Contudo, a presença da criança na escola não garante a
aprendizagem, apenas que ela vai estar mais antenada para datas de
avaliação, provas e conteúdos. Só a motivação vai garantir isso",
pondera. Na percepção dela, a questão de constante vigilância e perda da
possibilidade de preservação da identidade já está espalhada em outros
ambientes sociais e, por isso, esse não seria um problema novo para as
crianças. "Não acredito que isso se reflita em uma possível revolta,
pelos pais ficarem sabendo se ela está ou não na escola. A criança,
teoricamente, não tem autonomia se quer ou não ir à aula. Esse controle
só está contando isso para os pais, que são os responsáveis", afirma.
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