terça-feira, 11 de outubro de 2016

REGANDO O PÉ DE DINHEIRO. (Por Jacob Fortes).

     Raimundo Carvalho, o Raimundinho, de apenas quatro anos, residida com os pais, José e Luiza, num recesso agrário, às margens da Lagoa do Curralinho. Por aqueles tempos, em que a aparição de dinheiro constituía espanto ou produzia flagrantes de curiosidade, as práticas mercantis se regulavam por uma usança cardeal: o escambo. Despossuído de pecado, Raimundinho, o primogênito, crescia introjetando no seu armarinho o modus vivendi da sua tribo (de ralos habitantes) e do seu ambiente: costumes, vernaculismo, práticas agrícolas, enfim, os instantâneos sertanejos.
     Certa feita, em pagamento por algumas sacas de grãos, José recebeu o improvável: dinheiro em espécie; o guardou em local aparente. Porém, não tardou para o numerário desaparecer. A circunstância fez José mergulhar em turbilhão de cogitações acerca do local exato onde teria posto o efetivo e quem o teria subtraído. 
     Tempo decorrido José percebeu que Raimundinho habituara-se a urinar prazenteiramente no mesmo lugar. Inquirido do motivo de verter somente naquele local, Raimundinho declarou que era para regar o pé de dinheiro que ali havia plantado, (reproduziu as práticas agrícolas do pai). 
     O gesto de Raimundinho, tão estúrdio quanto engraçado, fez descontinuar a vexação do pai; aliviou-se por haver encontrado o tesouro terreal perdido.
     Descanse em paz, meu irmão, no tesouro celestial que Deus lhe reservou. Se permissão houver, rogue a Deus por nós, pecadores deste mundo. Pelos seus livros agrícolas o agradecimento dos seus leitores. De lembrança e saudade cá ficamos, os seus!

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