O Plano Nacional de Educação aprovado na quarta-feira à noite
pela Câmara dos Deputados deve duplicar os valores a serem investidos no
setor nos próximos dez anos no país. Dobrar a verba para a educação em
uma década certamente é importante, mas não garante que elevará o
desempenho escolar dos estudantes brasileiros.
Recursos para
estabelecer remuneração digna, capaz de atrair profissionais
qualificados para as salas de aula, é parte da equação. Mas
provavelmente concentrar os esforços somente em aumentos salariais não
irá resolver a baixa qualidade do ensino brasileiro. É fundamental
desenvolver estratégias pedagógicas e políticas públicas capazes de provocar uma revolução na cultura do ensino.
Melhorando desempenho
Alguns pesquisadores começam a investigar o que faz melhorar o
desempenho dos alunos. O estudo “Conhecimento ou Práticas Pedagógicas –
Medindo Efeitos da Qualidade dos Professores no Desempenho dos Alunos”,
publicado em março deste ano (bitly.com/1jxwcky),
contribui para o direcionamento das políticas públicas na área. Usando
noções de econometria, os pesquisadores Maurício Fernandes e Claudio
Ferraz usaram dados do governo de São Paulo para avaliar as práticas
pedagógicas adotadas pelos professores e o domínio dos alunos sobre
matérias.
A pesquisa conclui que a qualificação dos professores é importante,
mas mais importante ainda são as práticas pedagógicas utilizadas. Os
estudantes têm melhor desempenho quando os professores dão tarefas para
serem feitas em casa e as corrigem, explicam as matérias até que os
alunos tenham entendido o assunto e trazem exemplos práticos para o uso
do conhecimento estudado. “Em outras palavras, a seleção e atribuição de
professores com alto nível de conhecimento nas disciplinas pode ser
inócua, caso não seja acompanhada por outras medidas”, afirmam os
pesquisadores.
Segundo eles, talvez, o mais importante “seja identificar as práticas
de ensino mais eficazes para cada contexto e treinar os docentes para
utilizá-las de maneira adequada e com a frequência necessária”. O estudo
sugere ainda que políticas de treinamento de docentes para uso adequado
de práticas pedagógicas pode apresentar resultados mais satisfatórios
que outras políticas, como redução do tamanho de turmas, inclusão de
professores adicionais em salas, ampliação das jornadas escolares. Mais
pesquisas que respaldem políticas para a educação são bem vindas.
Educação 2.0
Num momento em que as informações atravessam o mundo na velocidade da
luz, a educação precisa mais que dinheiro e práticas pedagógicas
eficientes. Cada vez mais será necessário que temas tecnológicos sejam
objeto de estudo em salas de aula. Em países desenvolvidos isso está se
tornando comum.
O ensino da lógica e de conceitos de programação de computadores
começa a ser introduzido em escolas dos Estados Unidos e da Inglaterra
de diversas maneiras. Norte americanos e ingleses têm aderido a uma
campanha – a “Hour of Code” (em tradução livre “hora de programar”) –
que propõe que alunos usem uma hora do dia para estudar programação. Até
mesmo conhecimentos que por muitos são considerados áridos – aprender
conceitos de lógica e desenvolver aplicativos – podem se tornar
interessantes. Encontra-se um bom exemplo com Dan Shapiro, um
empreendedor do Vale do Silício que vendeu uma empresa para o Google,
tem diversas patentes na área de tecnologia e criou um jogo de tabuleiro
para ensinar conceitos de programação para crianças. Outro exemplo são
os iD Tech Cam – acampamentos em que crianças aprendem a programar. Em
algum momento no futuro, desenvolver códigos pode ser tão útil quanto
ser alfabetizado.
Um plano
Primeiro tentar resolver os problemas básicos de desempenho para só
então se preocupar em introduzir o ensino de fundamentos de tecnologia
pode se mostrar uma estratégia equivocada, perpetuando a distância que
já se apresenta em relação a países desenvolvidos. O grande desafio é
trabalhar em várias frentes em paralelo: estimular pesquisas sobre
desempenho, qualificar professores para implantar estratégias que
melhorem o aprendizado e introduzir ferramentas pedagógicas que
estimulem o desenvolvimento de uma cultura de inovação.
Crédito da matéria: http://www.gazetadopovo.com.br
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