O carioca Marco Archer Cardoso Moreira, em
entrevista ao repórter Renan Antunes, em 2005,
admitiu ser traficante: — “Sou traficante e traficante, só traficante”.
À parte esse desvirtuoso e daninho ofício, pungiu o coração dos brasileiros,
sobremodo o meu, a notícia da morte de Marco, na Indonésia, por fuzilamento. Se a pena cominada, irrecorrível, é
desproporcional à falta isso é inelutável.
A
gênese das firmes convicções do Marco, — de que conseguiria reverter a sua sentença
de morte — pode encontrar-se no Brasil: a impunidade que não mete medo, que
encoraja recidivar. No Brasil as malinações se sucedem e não acarretam
arranhões ao pescoço, nem mesmo aos que detém históricos recheados de assentamentos
desregrados, mas em terras que não poupam acrimônia às práticas delitivas esse pescoço
pode ser aniquilado. São os riscos que correm os que, em territórios onde a tirania
faz rosários de cabeças humanas, cometem infrações manifestamente puníveis; depois
de submetidos à responsabilidade penal. Safar-se cá não quer dizer safar-se lá.
Nem sempre
se salva aquele que acredita salvar-se no farol que segue. A luz, por vezes
difusa, pode esconder abismos escuros. É o alvitre de cada um. Em busca de moeda cada qual toma o
caminho que lhe parece conveniente: uns lançam-se tenazmente ao picadeiro,
outros cavoucam em chãos duros e há os que acreditam encontrá-las facilmente,
sem transudar, em meio a infrações fascinantes.
Talvez houvesse no Marco alguma distinção
pessoal que pudesse ser admirada, mas o seu ofício, que reputo nefasto, é digno
da mais religiosa compaixão.
Para expandir o sentimento de
tristeza, há outro brasileiro na fila, Rodrigo Gulart, condenado por igual
delito e que, enfermo, padece de profunda desorganização psíquica. Traficar em
terra de degola esses brasileiros, Marco e Rodrigo, de duas uma: ou tornaram-se
traficante porque ficaram loucos ou ficaram loucos por tornarem-se
traficantes. Que o amorável Deus vele o
sono eterno do primeiro; apiede-se do segundo, pois, quem sabe, este poderá optar
por dar melhor emprego a sua existência.
(Por
Jacob Fortes, 22.01.2015).
Nenhum comentário:
Postar um comentário