segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Opinião: INDONÉSIA E A PENA DE MORTE

O carioca Marco Archer Cardoso Moreira, em entrevista ao repórter Renan Antunes, em 2005, admitiu ser traficante: — “Sou traficante e traficante, só traficante”.
À parte esse desvirtuoso e daninho ofício, pungiu o coração dos brasileiros, sobremodo o meu, a notícia da morte de Marco, na Indonésia, por fuzilamento. Se a pena cominada, irrecorrível, é desproporcional à falta isso é inelutável.
A gênese das firmes convicções do Marco, — de que conseguiria reverter a sua sentença de morte — pode encontrar-se no Brasil: a impunidade que não mete medo, que encoraja recidivar. No Brasil as malinações se sucedem e não acarretam arranhões ao pescoço, nem mesmo aos que detém históricos recheados de assentamentos desregrados, mas em terras que não poupam acrimônia às práticas delitivas esse pescoço pode ser aniquilado. São os riscos que correm os que, em territórios onde a tirania faz rosários de cabeças humanas, cometem infrações manifestamente puníveis; depois de submetidos à responsabilidade penal.  Safar-se cá não quer dizer safar-se lá.
Nem sempre se salva aquele que acredita salvar-se no farol que segue. A luz, por vezes difusa, pode esconder abismos escuros. É o alvitre de cada um. Em busca de moeda cada qual toma o caminho que lhe parece conveniente: uns lançam-se tenazmente ao picadeiro, outros cavoucam em chãos duros e há os que acreditam encontrá-las facilmente, sem transudar, em meio a infrações fascinantes.
Talvez houvesse no Marco alguma distinção pessoal que pudesse ser admirada, mas o seu ofício, que reputo nefasto, é digno da mais religiosa compaixão.
Para expandir o sentimento de tristeza, há outro brasileiro na fila, Rodrigo Gulart, condenado por igual delito e que, enfermo, padece de profunda desorganização psíquica. Traficar em terra de degola esses brasileiros, Marco e Rodrigo, de duas uma: ou tornaram-se traficante porque ficaram loucos ou ficaram loucos por tornarem-se traficantes.  Que o amorável Deus vele o sono eterno do primeiro; apiede-se do segundo, pois, quem sabe, este poderá optar por dar melhor emprego a sua existência. 

(Por Jacob Fortes, 22.01.2015).

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