Há um certo medo carregado de inexplicável
rancor de muitos adultos em relação aos jovens: eles são alienados,
irresponsáveis, atrevidos, dispersos, inquietos, barulhentos,
superficiais, desrespeitosos, entre tantos outros adjetivos. No entanto,
um simples olhar mais detido sobre esses adjetivos e fica claro que não
são características, mas sintomas de uma juventude cada vez mais
desamparada pelos adultos. Pais que não educam, escolas que não formam,
mercado que explora, governo que não integra, religião que ilude,
violência que coopta e destrói. Como é duro ser jovem em um país no qual
os velhos não aceitam a jornada dupla de cuidar da própria vida e da
vida deles.
Há tantos professores que são grandes mestres na arte de ouvir e
falar com jovens. Há tantos outros que não falam e há uma incômoda
maioria que não ouve. O espaço público da escola raramente se torna
espaço democrático de acolhimento do jovem como igual. O que se consegue
é no grito ou no braço. Espaço que deveria ser de palavras em festa e
que se torna ringue de fúria e mágoa. Os lares, tantos e tanto,
tornaram-se aquários de seres com as bocas em movimento, mas sem
diálogo, muito mais um ambiente de fuga do que de encontro. A rua, as
esquinas, os postos de gasolina, os grupos, as tribos, as turmas, os
bandos, as gangues, o lugar comum de reconhecimento, de pertencimento
negado pelo mundo de muitos adultos atarefados e entediados.
Não é fácil ser professor em uma sociedade que vê o jovem como
oportunidade de negócio ou desperdício de energia, como máquina de
sucesso e resultado ou como ameaça e perigo para as pessoas “de bem”.
Negam ao jovem suas inquietudes e inseguranças, sua imaturidade e falta
de referencias e atribuem a eles a responsabilidade por aquilo que não é
desprezo e rejeição, mas falta. Simplesmente falta.
Sei que a réplica a esse discurso são os casos de jovens violentos ,
sádicos mesmo, em sua sanha de destruição e morte. Sei que a réplica a
esse discurso são as estatísticas de roubo, estupro e morte envolvendo
jovens e que algo precisa ser feito. Concordo com o “algo precisa ser
feito”. Precisamos de mais professores que ouçam e deixem falar.
Precisamos de mais pais carinhosos e presentes. Precisamos de mais
Estado atuante com acolhimento social, cultural, esportivo, educacional.
Precisamos de mais religião compreensiva que punidora. Precisamos
demais de tudo isso. Para não sermos mais um país que prefere prender a
cuidar de seus jovens.
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