Francisco Manduri, mais
conhecido pela alcunha de Chico Farofa ou simplesmente Farofa, por mais de uma
década vaqueirou na fazenda “Curral Velho”, de propriedade de Terto Manso, também
conhecido pelo apodo de “Tertogalça”.
Nas décadas de 1930/40, quando
o gado vacum era criado sob o regime de extensão, campo aberto, a tarefa
preponderante de um vaqueiro consistia em campear: monitorar e inspecionar o
rebanho sob sua responsabilidade. Para tanto dispunha dos cavalos campeiros, por
vezes nomeados de boiadeiros. Durante a campeação se fazia acompanhar de um bom
rafeiro para ajudar nas reses esquivas ou no resgate daquelas que viessem a tresmalhar.
Certa feita, quando campeava
pelos socavões e bibocas do latifúndio, Farofa deparou-se com um macaquinho
recém-nascido. Desamparado e debilitado, o bebê apresentava visíveis sinais de
inanição. Prontamente Farofa regressou a casa a fim de alimentar o recente. Em
poucos dias o macaquinho, agora forte e nutrido, revelou o que
é da essência dos macacos: travessuras.
Suas divertidas traquinices enchiam a casa de bom humor. De tanto assistir
o vaqueiro montar e sair a cavalo diariamente, acompanhado do Baliza, seu fiel rafeiro,
o macaquinho, certa feita, para surpresa de Farofa, pulou no pescoço do Predileto,
apelido de um dos cavalos, e firmou-se em suas crinas. O que se supunha ser um gesto
isolado do macaco tornou-se uma rotina: bastava encilhar o Predileto e o
macaquinho, agora alcunhado de Pinga-Fogo, agarrava-se às crinas do animal e só
desgrudava quando Farofa regressava das lidas campesinas. Para não atrapalhar
os movimentos do vaqueiro, sobretudo quando precisava inclinar-se sobre o
pescoço do cavalo, Farofa ensinou Pinga-Fogo a montar no dorso do Baliza. Para quem
se revelara bom aluno de equitação no pescoço do Predileto, Pinga-Fogo
rapidamente se tornou um excelente ginete no dorso do Baliza. A dupla estava
formada. Havia entre eles uma relação de companheirismo aprofundava pelo labor sertanejo.
Quando Farofa parava em uma fonte para dessedentar a si e o cavalo, Baliza e
Pinga-Fogo também se saciavam. A companhia de um vaqueiro mirim, montado no
cachorro, acabou por transformar a obrigação de Farofa em pura diversão. Mas
era preciso zelar pela integridade física do vaqueiro coadjutor. Nesse sentido Farofa
mandara o modista da sola, o soleiro, confeccionar um terno de couro para Pinga-Fogo;
protegê-lo dos espinhos. Tudo ocorria de modo rotineiro com a dupla quando
certo dia, ao regressar a casa, sol pendido, Farofa estranhou o retardo de Baliza
e Pinga-Fogo. A demora foi-se acentuando e Farofa, depois de esperar o quanto pôde,
encilhou o cavalo e retornou em busca dos amigos evidentemente seguindo o mesmo
trajeto por onde havia passado. Ao divisar uma nuvem de urubus, que planavam
denunciando carniça, Farofa intuiu que ali estava a razão por que se verificava
o atraso dos amigos. Ao se aproximar Farofa constatou que se tratava realmente
de uma carniça com que Baliza repimpava a barriga. Enquanto Baliza saciava seu
instinto repugnante, Pinga-Fogo, impacientado e contrafeito, aguardava sobre um
galho de jatobá do campo com a cabeça recostada ao chapéu-de-couro que lhe
servia de travesseiro. Ao perceber a chegado do seu amo Pinga-Fogo, num átimo,
voou nas crinas do Predileto e retornou para a casa, feliz. Desse dia em diante
Pinga-Fogo não amais aceitou seu animal de montaria. Preferiu mesmo permanecer
em casa na companhia de Dona Malvina e seu filho Chico Junior, o Farofinha.
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