quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

FLAGRANTE: A ROSA E A ESTRELA. (por Jacob Fortes)


No Natal de 2014 fui ao jardim da minha casa e, apanhado de surpresa, flagrei um colóquio amistoso entre uma rosa e uma estrela. Depois de fitar longamente o estelar do firmamento, a rosa perguntou à estrela:
— De onde vem a tua luz resplandecente, estrela?
—Vem da mesma fonte que deriva o teu perfume.
— O meu aroma chega até aí, no teu jardim estelar?
— Sim, chega. Assim como sinto o teu doce perfume aqui, do mesmo modo, aí, tu te iluminas com o meu brilho.
— Por que o céu é recamado de candelabros presos às paredes do teto?
— Para afugentar as trevas, para que prevaleça a luz.
— Tu refulges, continuamente?
— Sim, mas há um regime de revezamento: ora as estrelas e a lua, ora o sol.
— Por que esse farol sobre a terra? 
Porque a luz é vida, ilumina as mentes, guia os corações, permite aos olhos divisar a Deus. Não fosse pela cintilação estelar não te tornavas romântica à noite. A luz celeste é uma solução perfeita para realçar o teu glamour no período em que o sol está de folga.
— Estrela, apesar de sentires o perfume que exala de mim, tu nunca vieste beijar-me a fronte, por quê?
— Como assim?
 — Os beija-flores, as borboletas, os insetos, todos, inclusive as pessoas, enxameiam-se ao meu derredor para inalar o meu perfume. Por que não vens também inebriar-se de mim?
— Não posso. A cada uma das suas criaturas o Criador destinou um papel e um habitat. O meu habitat é o céu; o teu, a terra. As estrelas e a lua tem a incumbência de, à noite, alumiar a terra e filmar as ações dos seres que nela habitam. Durante o dia o sol, estrela de patente superior, se encarrega dessa tarefa. Fomos criadas para mundos e papeis distintos: eu para residir e reluzir nos jardins do céu; tu para residir e exalar nos jardins da terra. Se eu descer me tornarei candente; desfalecerei; se tu subires morrerá. Eu não posso incensar o mundo igualmente a ti, mas posso iluminá-lo.
— Estrela, tu és muito sabida, fazes lembrar o professor: vives a explicar as coisas e seus fundamentos, enquanto eu, tola, pareço uma criança, ávida por aprender.
— Julgas-te rasa em saber, mas em muito podes servir a Deus. Basta que faças brotar o teu aroma de forma espontânea e abundante assim como Deus faz jorrar o seu amor sobre as coisas.
— Obrigada, estrela. Feliz Natal!
— Obrigada rosa. Hoje hei de reluzir ainda mais para celebrar o nascimento e aquecer a manjedoura do Aniversariante desta noite.



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