O cenário religioso brasileiro tem passado por transformações significativas nas últimas décadas. Dados do Censo de 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que as religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda, cresceram de 0,3% para 1% da população brasileira. Embora ainda representem uma minoria, esse aumento indica uma maior visibilidade e reconhecimento dessas tradições religiosas no país.
No entanto, esse crescimento tem sido acompanhado por um aumento alarmante nos casos de intolerância religiosa. Em 2024, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania registrou 2.472 casos de intolerância religiosa pelo Disque 100, representando um aumento de 66,8% em relação a 2023. As religiões de matriz africana foram as mais afetadas, com praticantes de umbanda e candomblé somando 289 dos casos reportados.
Especialistas apontam que esse fenômeno está enraizado no racismo estrutural presente na sociedade brasileira. O preconceito contra as religiões afro-brasileiras é alimentado por fatores como a demonização dessas práticas por outras religiões, a falta de conhecimento sobre suas tradições e a associação racista com a população negra.
Em resposta à crescente violência, líderes religiosos de matriz africana têm buscado maior representatividade política. Um estudo realizado pelo grupo de pesquisa Ginga, da Universidade Federal Fluminense (UFF), identificou 284 candidaturas associadas a crenças de matriz africana nas eleições municipais de 2024. Esse movimento é visto como uma reação à violência enfrentada pelos terreiros e uma forma de lutar por direitos e reconhecimento.
A situação evidencia a necessidade urgente de políticas públicas que promovam o respeito à diversidade religiosa e combatam o racismo religioso. É fundamental que a sociedade brasileira reconheça e valorize as tradições de matriz africana como parte integrante de sua identidade cultural e religiosa.
Movimentações no Piauí: Rota do Axé e Enfrentamento ao Preconceito
No Piauí, o Povo do Axé tem se mobilizado para promover a valorização e o respeito às religiões de matriz africana. Uma das iniciativas é a criação da "Rota do Axé", um projeto que visa integrar terreiros de candomblé e umbanda ao circuito turístico do estado. A proposta é que esses espaços recebam visitantes interessados em conhecer e vivenciar as tradições afro-brasileiras, fortalecendo economicamente os terreiros e promovendo o combate à intolerância religiosa. Municípios como Teresina, Amarante, Floriano, Campo Maior, Pedro II, Piripiri e Parnaíba estão incluídos no projeto.
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