Escritora e pedagoga Ana Maria Cunha |
Estava eu sentada num consultório médico, esperava ser atendida, quando chegou um senhor e perguntou à atendente se o “doutor” ainda demoraria, a moça fez uma cara de poucos amigos e resmungou alguma coisa, que de onde eu estava, não pude entender. O senhor, humilde em sua doença e em sua pobreza, apenas sentou-se quieto a um canto e limitou-se a esperar, como nós outros. Nisso chega uma senhora visivelmente sofrida, sentindo alguma dor muito forte, pois seu olhar e expressão facial eram de sofrimento e angústia, dirigiu-se à mesma moça, que no momento, conversava com a colega sobre a festa que haviam ido, na noite anterior, ambas muito empolgadas com os assuntos particulares e provavelmente fúteis que “precisavam ser partilhados”. A pobre senhora perguntou sobre o horário do médico que a atenderia e, como falasse um pouco alto, percebi se tratar de um oncologista. A moça a quem ela se dirigiu a principio a ignorou, mas diante de uma segunda pergunta um tanto quanto mais alta, ela se irritou e tratou muito mal aquela senhora. Isso causou revolta aos outros pacientes que estavam aguardando o atendimento, no entanto, ninguém ousou se manifestar.
Ora, todas as pessoas merecem ser bem tratadas, especialmente aquelas que se encontram com algum problema grave, e de saúde então, esse sim “precisam” de respeito e atenção, pois já estão desencantadas, sofridas, doídas e, muitas vezes, condenadas à morte, como parecia ser o caso daquela senhora.
Observo o quanto o atendimento público é ruim, e não é por falta de recursos financeiros, pois grande parte dos hospitais públicos, especialmente em nossa capital, são bem servidos de aparelhagens técnicas e tecnologias de ponta, médicos qualificados, doutores gabaritados. O que está faltando é humanidade, solidariedade, caridade. Muitas pessoas ainda morrem nas filas de espera e não é por defeito técnico não, é por falha humana mesmo, que começa no atendimento. Está faltando amor, está faltando Deus no coração do homem.
Quem procura o serviço de saúde pública tem duas características em comum. A primeira é a necessidade financeira, caso contrário estaria procurando uma das inúmeras clínicas particulares existentes, e o segundo é alguma doença que os incomoda, e que geralmente é grave.
Não custaria nada, nem um centavo a mais aos cofres públicos atender bem, oferecer um sorriso, um gesto de afeto, de compreensão a dor do outro. Às vezes os profissionais da saúde, médicos, enfermeiros e atendentes, sequer olham no olho do paciente, pois se olhassem veriam sua alma que, de tão sofrida, pede apenas um pouco de carinho e um gesto de calor humano. E parece que isso não está embutido no pacote de serviço de saúde pública de nossos postos de atendimento. Ou será que a saúde pública no Brasil também está doente e precisa de cuidados especiais?
Precisamos mudar essa realidade, tanto é que de modo muito acertado a Campanha da Fraternidade esse ano trata do tema: Fraternidade e Saúde Pública. Acredito que algo precisa ser feito pelos órgãos responsáveis no sentido de oferecer uma melhor qualidade no atendimento, mas acredito também que depende de cada um dos que estão envolvidos no processo, de modo aberto, fraterno e sensível a dor alheia. Não custa nada ser fraterno, não custa nada tratar bem, aliás isso só faz bem!
Ana Maria Cunha
Pedagoga
Cadeira nº 12 da ACALE- Academia Campomaiorense de Artes e Letras
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