Joaquim José da Silva Xavier fora o único dos integrantes do movimento revolucionário conhecido como Inconfidência Mineira que, durante o inquérito judicial não negou sua participação, diferentemente dos outros integrantes que se acovardaram. Mais, ele assumiu a responsabilidade de chefia do movimento. Acabou enforcado e esquartejado. E entrou para a história como Tiradentes, o Mártir da Independência.
Entrou para a história: Talvez aí esteja a resposta para a pergunta que sempre inquietou historiadores, pesquisadores e pessoas de bom senso. O que fazia um simples alferes em meio a coronéis, padres, oficiais, mineradores, advogados e poetas. Qual era sua intenção? Ou melhor, qual a sua ambição? Os biógrafos revelam um Tiradentes brilhante orador, líder nato, e excelente organizador. Será? Essas virtudes já bastariam para justificar sua participação entre àqueles, e considerá-lo de maneira precipitada um tolo útil disposto a abdicar da vida em favor de um ideal? Curioso é que no dia seguinte à sentença condenatória todos tiveram suas penas comutadas, exceto o próprio Tiradentes, dentre todos, o que não possuía, até onde se saiba influência política e financeira.
Os movimentos políticos, sociais ou religiosos, precisam de um líder, onde se centralizam as idéias, projetos e ambições propostas a fim de torná-las visíveis e compreensíveis, portanto, plausíveis e capazes de convencer. Mas o líder é apenas a ponta do iceberg. Ele é o que aparece, mas não é o que decide. Geralmente, o líder é alguém de poucos recursos financeiros, pouca instrução, e nenhuma influência, mas que possui carisma, é aquele que possui a rara capacidade de convencer quando se pronuncia e quando age. Sabe-se que por trás dos Cesares romanos havia os senadores que os municiavam com conhecimentos e sabedoria. O jornalista e escritor britânico David Icke sugere em seu artigo Era Hitler um Rotschild? (www.umanovaera.com) que o Füher seria apenas um fantoche nas mãos da poderosa linhagem oculta alemã à qual pertenceria face um suposto envolvimento de sua avó materna com o Barão de Rotschild.
Durante a Idade Média, sustenta o jornalista, essa linhagem chamava-se Bauer. E Hitler – como conta a história oficial – um artista plástico medíocre, reles soldadinho de infantaria durante a primeira grande guerra e, agraciado com honraria mais por seu espírito lunático que por sua bravura e coragem, anos depois, sairia da cadeia para liderar o poderoso e dominador nacional socialismo alemão. Como conseguiu? E por quê? E para quem? – a história oficial foi desmascarada com o tempo, em face às evidências e conclusões, embora não admitida.
A Inconfidência Mineira, por sua vez, também precisava de um líder. Ou não? Haja vista, esse líder, personificado na figura do Tiradentes, ter surgido apenas após o trágico, porém, previsível destino do movimento. O objetivo era livrar-se da dominação portuguesa em Minas Gerais, e não em todo o Brasil, uma vez que naquele tempo, a idéia de país que hoje predomina não existia. Pretendia-se também acabar com a Derrama que era uma taxa compulsória que a Coroa portuguesa cobrava da população mineira a cada vez que a cota de 100 arrobas anuais de extração de ouro, determinada por lei, não fosse atingida, o que obrigava a população, a completar essa cota.
O esgotamento das jazidas nas Minas Gerais era fato não aceito pela Coroa que sequer se dignava a comprovar isto. Convenceram-se depois. Mas para tanto foram precisos acontecimentos traumáticos, banhados de sangue e vergonhosos (para a própria Coroa) como a Inconfidência e o resultado desta.
Uma conspiração tem como objetivo principal tomar o poder. E depois, é necessário organizar outro. Que papel caberia ao Tiradentes nessa nova estrutura de poder que se pretendia criar em Minas Gerais? Se, de fato, caberia algum papel, a se considerá-lo apenas um alferes em meio a tantas pessoas influentes e insatisfeitas e mais bem preparadas. O que lhe prometeram? De que argumentos se utilizaram para convencê-lo a ter a participação que teve? E, finalmente, fosse ele um astuto, o que suas relatadas virtudes sugerem, mas não comprovam qual a sua estratégia para se aproximar daquelas pessoas, para conquistar a confiança delas e para convencê-las de suas idéias – se ele as possuía?
Que o movimento revolucionário mineiro abrigasse poetas era compreensível, graças à influência que as idéias européias exerciam sobre estes. Mas daí, acreditar que o povo descontente e a tropa sublevada apoiariam a revolução beira à ingenuidade, quando se trata de brasileiros, com todo o respeito que a nossa nacionalidade mereça.
Num período mais recente da história brasileira, os comunistas, liderados por Luiz Carlos Prestes, com a participação de Olga Benário, também acreditaram nisso. E cada um pagou o seu preço. Prestes, com a humilhação de percorrer durante anos e às escondidas um país que também era seu, levando uma mensagem de esperança, de igualdade e de liberdade jamais compreendida e aceita. Olga, com a vida.
Destino idêntico teve Tiradentes. Mas, voltemos às perguntas inquietantes que jamais se calam: Por que ele quis esse destino? Convencido por quem? Motivado pelo quê?
Até que surjam novos documentos ou evidências o que é pouco provável, essas perguntas ficarão sem respostas.
Duzentos e vinte e três anos depois, Tiradentes continua sendo um herói cercado de mistérios.
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