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seg, 21/07/2014 - 14:05
- Atualizado em 21/07/2014 - 15:08
Jornal GGN - Aécio Neves (PSDB) ganhou a primeira
bordoada da Folha de S. Paulo enquanto candidato a presidente no domingo
(20). Na edição dessa segunda-feira (21), o periódico destina uma
página inteira às explicações do tucano sobre a denúncia envolvendo a
construção de um aeroporto de pequeno porte na cidade mineira de
Cláudio. A obra é da época em que o Estado era comandado pelo
presidenciável. Quase R$ 14 milhões foram gastos pelo poder público no
equipamento localizado em terreno pertencente ao tio-avô de Aécio, Múcio
Guimarães Tolentino.
Segundo revelou a Folha, são familiares de Aécio quem, na prática,
comandam o entra e sai no aeroporto ainda não regularizado pela Anac
(Agência Nacional de Aviação Civil). O jornal da família Frias publicou
uma segunda reportagem com a versão do candidato (“Aeroporto não beneficiou familiares, diz Aécio”),
e proveu espaço extra para algo difícil de um alvo de reportagem
escandalosa conseguir sem ter de recorrer à Justiça: a publicação da
nota de esclarecimento de Aécio na íntegra.
Segundo a assessoria do mineiro, a reportagem-denúncia da Folha (“Governo de Minas fez aeroporto em terra de tio de Aécio”)
contém “equívocos” dignos de lamentação e reparo. Mas a explicação de
Aécio também. A começar pelo fato de o tucano afirmar que não houve, em
seu governo, a construção de "um novo aeroporto na cidade de
Cláudio". "Como parte do programa Pro-Aéreo, o governo de Minas investiu
em melhorias das condições da pista de pouso já existente no local", diz a nota.
Ao contrário disso, há evidências de que o que se deu, na verdade,
foi a construção de um aeroporto num município de 25 mil habitantes, que
hoje é utilizado para pouso de aviões particulares e eventos de
aeromodelismo (veja vídeo). Um dos índícios é o edital
do Departamento de Obras Públicas (Deop) de Minas Gerais, que aponta
que a licitação aberta pelo Estado mineiro tinha como finalidade a “construção do aeroporto de Cláudio”. A publicação da homologação aconteceu em 2008:
Publicação do Diário do Comércio, de janeiro de 2009, afirma que o Deop havia autorizado, na época, “o
início das obras de reforma e melhoramentos em oito aeroportos do
interior do Estado, além do início da construção do terminal
aeroportuário de Claúdio”. No total, R$ 70 milhões em investimentos foram anunciados pelo governo de Minas à imprensa.
“Em Cláudio está prevista a construção total do aeroporto, com
pista de mil metros por 30 de largura, taxi way, estacionamento de
aeronaves, terminal de passageiros, equipamentos para operação 24 horas e
alambrado cercando a área patrimonial. Na pista poderão pousar
aeronaves com capacidade para transportar até 50 passageiros”, diz o jornal. O veículo também publicou mais detalhes sobre o Pro-Aéreo (leia a íntegra aqui).
O Google Street View também fornece registro de área próxima ao
aeroporto, que data de 2011, onde havia sido instalado um painel
publicitário (já em ruínas) noticiando o investimento. A obra, de acordo
com a Folha, foi concluída em 2010, mas nunca foi inaugurada. Aécio não
comentou os motivos.
Segundo a assessoria do tucano, a manchete de capa da Folha comete um
erro ao afirmar que o terreno do aeroporto é de um parente de Aécio. "Não foi feita nenhuma obra na fazenda de familiares”. A área foi desapropriada antes pelo Estado. Inclusive, "o
antigo proprietário da área não concordou com a desapropriação e
contesta suas bases na justiça. Até hoje ele não recebeu nenhum centavo”.
O valor da indenização pago em conta judicial ao tio-avô de Aécio pela
desapropriação gira em torno de R$ 1 milhão, sustenta o jornal. A
família de Aécio tenta, pelas vias legais, um valor maior. Esse
pagamento, na visão do grupo de Aécio, entretanto, não configura nenhum “favorecimento” aos membros da Família Neves.
Aécio ainda reforça que o investimento no aeroporto faz parte do
pacote de melhorias em outros equipamentos do tipo espalhados por Minas
Gerais, o chamado Pro-Aéro. Segundo o tucano, o aeroporto de Cláudio foi
obra da gestão do avô Tancredo Neves, em 1983. O pedido para
regularização junto à Anac foi enviado ainda em 2011. A Agência afirma
que faltam documentos.
Sem comentários
Aécio
também não rebateu a Folha no tocante às chaves do aeroporto. Segundo o
jornal, um repórter foi enviado à Prefeitura de Cláudio, com a
identidade profissional em segredo, alegando que gostaria de utilizar o
equipamento. Soube pelo chefe de gabinete do Paço, José Vicente de
Barros, que os interessados no aeroporto precisavam se reportar à
Fernando Tolentino, filho de Múcio. O primo de Aécio disse à Folha, por
sua vez, que o presidenciável sempre usa a pista de pouso quando visita a
cidade onde passou a infância. Aécio não entrou em detalhes sobre o
assunto.
O candidato ainda afirmou que o local do aeroporto foi escolhido por
critérios técnicos, jogando a responsabilidade, indiretamente, sobre o
primeiro escalão de seu antigo governo. Mas não entrou no mérito de o
equipamento ter sido fixado em uma cidade que fica a poucos quilômetros
de dois outros municípios populosos e com aeroportos também reformados
pelo Estado: Divinópolis e Oliveira.
O candidato à Presidência também destacou que vários outros
aeroportos de pequeno e médio porte receberam investimentos do governo
estadual, mas tangenciou o fato de, aparentemente, ser prática de longa
data a instalação desse tipo de aparelho, de uso quase que privado, nas
proximidades de terras pertencentes a políticos poderosos.
É o caso das incontáveis fazendas - uma delas, a Veredão,
com pista própria de pouso - do empresário Newton Cardoso (PMDB),
ex-deputado federal e governador de Minas entre 1987 e 1991.
O
também ex-governador mineiro Helio Garcia, que assumiu o Palácio da
Liberdade pela primeira vez em 1987, em substituição a Tancredo Neves,
possui patrimônio com pelo menos sete fazendas interligadas (alvo de disputa entre os herdeiros),
sendo uma conhecida, a Fazenda Santa Clara, em Santo Antônio do Amparo.
O município sedia o Aeroporto Julio Garcia. O espaço também é utilizado
para shows de aeromodelismo, alguns patrocinados pela Prefeitura em época de festividades.
No caso da cidade de Cláudio, o aeroporto fica a 6 quilômetros da
Fazenda da Mata, propriedade da família de Aécio, e à distância ainda
mais inferior da Fazenda Santa Izabel, do tio-avô do presidenciável.
Mata, segundo a assessoria do postulante à Presidência, está no espólio
de Risoleta Neves, avó de Aécio, e pertence, portanto, aos três filhos
dela.
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